Aquela leitura que faz a gente se perder em um tempo de suspiro, beleza e o cheiro do mar: Tem um coração que faz barulho de água.
O livro da Cris Lisboa é recomendado para aqueles dias em que a gente precisa ler algo bonito, fazer aquele carinho no peito em desague ou para os dias em que só precisamos mesmo de um momento de suspiro e leitura leve. Tem um coração que faz barulho de água nos leva em uma leitura atravessada por músicas, cheiro de mar, café coado na hora, pôr do sol. Filipe Catto apresenta o livro e diz que é para ler em voz alta, eu discordo! Em alguns momentos a gente lê como quem faz uma prece, sussurra baixinho algumas palavras e quando menos percebe abre um sorriso largo e bobo e diz: “É isso mesmo!”. A Cris Lisboa escreve numa cadência que nos autoriza a parar a leitura e contemplar a paisagem, trocar a música do tocador ou da vitrola e depois retomar as palavras. Eu, com esse meu peito oceânico, aproveitei o solzinho de inverno nordestino, as águas mornas de uma praia chamada Paciência para me sentir abraçada enquanto lia a boniteza das palavras da Cris e suspendia o tempo que “gira em linhas tortas”. Afinal, um coração que faz barulho de água sempre encontra seu caminho de desemboque no mar.
PS: E não bastasse a beleza os textos, o livro ainda tem a capa ilustrada pela Rita Wainer, uma artista que eu recomendo a todos conhecerem.
Raquel Rocha
Filósofa, dançarina do ventre, produtora, podcaster. Graduada e mestre em Filosofia pela UECE, doutora em Filosofia UFRJ. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa e Extensão Universitária CLiPES (UFBA), onde coordena a linha de pesquisa Estudos e Poéticas do corpo; do Grupo de Teoria Crítica e Educação (FACED/UFC); do NuFFC – Núcleo de Filosofia Contemporânea Francesa (UFRJ). Dançarina do ventre com formação básica pela CoArt (UERJ) e formação continuada pelo Oriental Studio de Dança (RJ) e curso de extensão em dança do ventre “ Despertar da deusa” pela Universidade Federal do Cariri. Desenvolve pesquisas acerca das temáticas de filosofia contemporânea, ética, política, estética, feminismo, corpo, subjetividade, educação, história da filosofia, cultura. Atua sempre em um esforço de pensar a filosofia a partir do corpo e das questões cotidianas.