Em um de seus últimos texto Slavoj Zizek defende a tese de que o futuro talvez já esteja perdido e devemos nos preocupar em mudar o passado.

Para alguém menos versado na metapsicologia da Psicanálise, a ideia de mudar o passado pode soar estranha, já que tendemos a ver o passado como um ponto fixo da história. A própria ideia de mudar o passado pode, para alguns, soar revisionista e sabemos como isso é perigoso.

Lembrem então do Clássico ” De Volta para o Futuro”. McFly volta no tempo, salva sua mãe e coloca sua existência em risco, pois sua mãe agora está apaixonada por ele e não por seu Pai.

Temos uma metáfora em 3 pontos:

1. Nunca ter voltado no passado e o mundo continuaria como está.

2. Voltar no passado e acabar com a possibilidade do seu futuro.

3. Mudar o passado do passado criando um novo futuro.

O Triângulo edipiano de McFly é se não o protótipo do sujeito da Psicanálise e seus destinos.

As alternativas de McFly são análogas ao curto-circuito temporal proposto por Zizek. As incursões que fizemos ao passado nos levaram a um futuro inexistente, onde o apocalipse climático se apresenta como praticamente irremediável para não firmar inevitável.

No entanto, a reposição do sentido histórico das relações de exploração e dominação do homem sobre a natureza talvez nos coloque o “ponto-de-basta” ( close-caption), que implique em adiar o fim do mundo.

Tal reposição passa por mudar o eixo da história centralizado em uma forma de vida cuja racionalidade predatória impôs como forma exclusiva de Progresso a dominação da natureza e dos afetos para uma cosmopolítica que assuma o mutualismo como forma de laço social ampliado.

Eis a chave do texto de Zizek. E a solução de McFly. Outra forma de laço social que reconfigure o passado ao ponto de mexer nas correlações de variáveis possíveis na sobredeterminação do futuro.

Em outras palavras, o ” progresso” que nos trouxe até aqui não nos serve mais. Resta-nos inventar outra aliança, assim como McFly, para podermos voltar a sonhar com o futuro.

O que é a Psicanálise se não um ato contínuo e incessante de mudar o passado? (Michel de Certeau)

Maneu Messias

Maneu Messias. Psicólogo, psicanalista, músico, apaixonado por neurociências e ciências em geral. Doutor em Psicologia. Professor universitário desde 2016. Amante de cinema, games, séries e culturapop. Ainda desejando fazer faculdade de artes visuais e economia. Fortemente chegado em esportes radicais como escalada e paraquedismo e qualquer outra coisa que a minha ansiedade diga pra fazer. Co-Host do podcast Perdidos na paralaxe.